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Super Mais é importante instrumento de ensino-aprendizagem

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O que você acharia de leitores de uma revista terem uma participação ativa na concepção e produção de cada edição? Para crianças e adolescentes, certamente, isso é mais que uma atividade lúdica. Trata-se de uma experiência de aprendizado de conteúdo, de reflexão crítica e de exercício de cidadania, elementos que vão ao encontro das propostas fundamentais da Educomunicação.

Essa é justamente a experiência que o Centro de Promoção Humana Ir. Tecla Merlo, localizado no Parque América, Zona Sul de S. Paulo (SP), realiza com a equipe de produção da revista mensal Super Mais, da Editora Paulinas. Destinada ao público infantojuvenil em formato gibi, há mais de 14 anos, a revista segue sendo produzida mediante uma intensa interação com alunos da entidade cuja faixa etária fica entre os 10 e 12 anos e 11 meses. A iniciativa integra o Programa Criança Certeza, do Centro Ir. Tecla Merlo. O sucesso do projeto já atinge outras escolas da região.

Quem explica esse processo de produção é a arte-educadora Luciana Gomes Nunes, que trabalha há 13 anos na entidade. Ela é a responsável por dirigir esse projeto com a equipe de redação da Super Mais. Luciana conta que, a cada mês, as crianças respondem um questionário por meio do qual contribuem para a construção da pauta. Elas também dizem o que gostariam de ler na revista.

Além disso, mediante rodas de conversa, os pré-adolescentes discutem os temas que a revista traz e contribuem com propostas de pauta, textos e desenhos para duas seções em especial: Página Aberta (que trata de temas de formação humana, como sexualidade, escola, relacionamentos, lazer, drogas e violência, servindo de subsídio para as atividades escolares) e Tribuna livre (espaço no qual as crianças oferecem seu ponto de vista sobre algum tema proposto). “Para você, o que é ser feliz? Por quê?” é a pergunta que aparece na edição de abril de 2019 na seção Tribuna livre (p. 10). “Para mim, ser feliz é ter uma família que me ame, porque assim eu consigo superar todos os meus obstáculos”, respondeu Francisco E. Oliveira Silva, de 11 anos.

Avaliação

A professora Luciana informa que é comum também a participação espontânea de professores e alunos (inclusive de outras escolas) enviando mensagens para a seção Cartas. A arte-educadora faz questão de salientar que a equipe de produção da revista busca manter-se fiel ao que escrevem esses meninos e meninas, cuja relação com a Super Mais se intensificou com o passar do tempo. “A espera da revista produz uma expectativa positiva nessas crianças que, aguardam, ansiosas para saber quem teve o texto publicado”, conta Luciana Nunes para quem essa experiência estimula a autoestima dos alunos.

“Ao conhecer seu lugar em todo esse engendramento, a criança experimenta pertencer a algo a ser geradora de mudança, protagonizando a ação e sendo vetor de transformação de outras crianças e, a partir disso, ela permite sonhar”, escreveu a jornalista Silvia Torreglossa em trabalho científico[1] que abordou essa experiência. Em sua análise, ela cita uma reflexão professor Ismar de Oliveira Soares a esse propósito: “Os jovens participantes desses projetos apontam o desejo de encontrar nas possibilidades de produção da cultura, através dos recursos da comunicação e da informação, os sonhos cotidianos e a transformação da realidade local”[2].

É o que revela a pequena Josiane Driele Martins, de 11 anos, na mesma edição de abril de 2019, ao responder à questão sobre o que é preciso para ser feliz. Para além de uma visão individualista, Josiane demonstra assumir uma mentalidade fundamentada numa identidade cidadã em construção. “Para mim, ser feliz é ajudar as pessoas que precisam de ajuda”, afirma.

Para saber mais sobre o Centro Social Ir. Tecla Merlo: https://www.facebook.com/centrosocialirteclamerlo/ e https://www.youtube.com/watch?v=I7Etnb8sjRM

Para saber mais sobre o “PROJETO DE ARTICULAÇÃO DE EDUCOMUNICAÇÃO NO
DESENVOLVIMENTO SOLIDÁRIO DA INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA
VULNERÁVEL NA AMÉRICA LATINA E NO CARIBE”. : https://www.rededucom.org/conceptualization.htm

Luís Henrique Marques, é jornalista, editor-chefe da revista Cidade Nova, secretário da diretoria da SIGNIS Brasil e membro do setor de Educomunicação e Pesquisa dessa mesma associação.

Foto: Revista Super Mais: crianças contribuem para a sua produção e aprendem com seu conteúdo (Foto/reprodução: Luís Henrique Marques)

[1] TORREGLOSA, Silvia. Uma rede super mais: relato de experiência do processo educomunicativo da revista Super Mais. Universidade Anhembi-Morumbi, Seminário de Comunicação e Educação, 11out.2014.

[2] SOARES, Ismar de Oliveira. Educomunicação: o conceito, o profissional, a aplicação: contribuições para a reforma do ensino médio. São Paulo: Paulinas, 2011.